Amauri Nolasco Sanches
Junior
Em 2008, eu junto com meu pai, fomos para Brasília no
encontro da juventude. Tinha a turminha das mulheres, tinha a turminha dos
índios, tinha a turminha das pessoas com deficiência, tinha a turminha dos homossexuais
e etc. Eu fui com a minha colega e seu pai, num movimento que nos convidou a ir
e estávamos lá para representar as pessoas com deficiência. Trouxe o relatório
direitinho, mas, como não quis continuar no movimento, eu acabei não entregando.
Depois de muitos anos eu fiquei pensando: por que separaram se dentro da
turminha das pessoas com deficiência, por exemplo, tinha mulheres, negros e homossexuais
(agora tem também transexual)? Se na turminha dos índios, tinha as mulheres? Se
na turminha dos negros, tinha as mulheres e as pessoas com deficiência? E
claro, a turminha dos homossexuais, tinham todas as que citei. Então, por que
segregar as turminhas?
Todos que estudam um pouco como funciona todo o mecanismo do
ESTADO (não estou falando do governo, mas, além dele), é fazer essa separação para
melhor governar. Mas, somos um povo mestiço, somos um povo que temos deficiências
físicas diversas, temos uma etnia cultural muito vasta. Não importa se você é
negro ou branco, descendente de oriental, árabe ou turco, a pobreza não se dará
dentro da cor ou condição física, e sim, falta de oportunidade. Quando eu
escrevi a resposta a Mariana Torquato, eu disse que temos uma luta além de se
importar se algum youtuber usou termos pejorativos, ou temas que não em a ver,
mas, temos uma inclusão acessível a lutar e se importar muito mais. Descobri
recentemente, que existem ônibus aqui em São Paulo, acessíveis para
cadeirantes, que não vão para o terminal. Temos que andar bastante para chegar
até o terminal. O UBER, que a própria Mariana gravou um vídeo, não respeita a cota
de sua frota ser acessível (dos outros aplicativos não sei). O ATENDE+ (são vans
acessíveis da prefeitura da cidade de São Paulo), se você faltar três vezes ao
longo da sua permanência no serviço, você é desligado automaticamente. Empresários
não respeitam a lei de cotas para pessoas com deficiência e o governo, como um
regulador social junto com a burocracia, inventou agora de ter que enviar um
laudo junto com o currículo. Vocês têm certeza que o problema é alguém te
chamar de aleijado, retardado ou coisas afins?
A questão da autoestima é uma questão educacional dentro da
realidade onde vive. Você só acha que a deficiência é um empecilho a sua
felicidade, só quando fica iludida com a perfeição que a própria igreja prega. Você
só vai ser feliz se você andar. Você só vai ser feliz se você tiver dinheiro e
coisas. Você só vai ser feliz se acetar Jesus. Acho eu, que se Jesus Cristo
vivesse hoje, ele faria com essas igrejas (pseudocristãs), o que ele fez no
templo expulsando todos dizendo que a casa de Deus não era comercio. A deficiência
está no nosso corpo e ela não vai embora só porque você ficou revoltado, você aceitou
Jesus (que na verdade, você tem que aceitar o pastor), você foi no Jão Tarado,
ou sei lá onde. A deficiência não vai te largar, não irá embora e nem, vai
desaparecer. O mundo é esse e só nos resta mostrar, que podemos e conscientizar.
Na minha vida fui chamado de milhares de coisas, mas, nem apelido pegava porque
pouco me importa se fulano disse que sou aleijado, ou sou filho da puta. Um bom
exemplo. Porque olho para foto de mamãe e vejo uma senhora que sempre foi respeitável,
sempre respeitou meu pai, porque vou ficar nervoso? Aleijadinho foi um dos
maiores artistas que o Brasil teve, não seria a mesma coisa se chamássemos, “pessoinha
com deficienciazinha”, iria ser estranho.
O forte não se importa muito com coisinhas como esta. Eu sou
um deficiente ou uma pessoa com deficiência. Sou um aleijado ou um cadeirante. Sempre
tratei as pessoas com deficiência intelectual por igual. Tenho um priminho –
filho da minha prima – que tem Síndrome de Down que chamo de “alemãozinho” ou “Rei
Arthur”. Prefiro ser chamado assim, do que da forma babaca de “exemplo de superação”.
Que diferença isso vai fazer? nenhuma.
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